Entrevista: como tornar-se um paratleta

O coordenador de esportes da Associação Desportiva para Deficientes (ADD) fala sobre o que é necessário para ingressar no mundo dos esportes

Depois do excelente resultado do Brasil nas Paralimpíadas 2012, em Londres, o espírito de competição para a superação contagiou o país. Muitos que, talvez, ainda não haviam se imaginado atletas, viram-se com vontade de experimentar e, quem sabe, até mesmo integrar a equipe de atletas brasileiros nas Paralimpíadas 2016.

Para falar do assunto, conversamos com um especialista em esporte adaptado para pessoas com deficiência. Trata-se do professor Sileno Santos, coordenador de esportes da Associação Desportiva para Deficientes (ADD). Sileno é profissional de Educação Física e atua na área de Esporte Adaptado desde 2003.

CMW: Como você avalia o desempenho dos atletas brasileiros desta edição das Paralimpíadas?
Sileno: Dentro das expectativas propostas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) de configurar entre os 7 melhores países do mundo.

CMW: Qual é o processo burocrático, ou etapas, que alguém precisa seguir para chegar a competir em uma Paralimpíada?
Sileno: Não existe um processo burocrático, basta ter potencial atlético compatível com a modalidade. Não adianta somente querer, tem que ser bom e ter aptidões para o esporte em nível competitivo.

CMW: Quem quiser participar da próxima edição das Paralimpíadas, e ainda não é atleta oficialmente, tem como? O que precisa fazer?
Sileno: Procurar uma orientação especializada com profissionais ou instituições que desenvolvem o paradesportivo para o desenvolvimento das técnicas do esporte.

CMW: Em São Paulo, que instituições as pessoas deficientes que queiram praticar esportes devem procurar?
Sileno: ADD – Associação Desportiva para Deficientes, telefone (11) 5011-6133.

Sileno Santos (foto) é técnico da atual melhor equipe de Basquetebol em Cadeira de Rodas do Brasil, campeão Brasileiro e Paulista com a equipe ADD/Magic Hands. Foi integrante da comissão técnica da Seleção Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas durante as Paraolimpíadas de Pequim em 2008, e é presidente da Federação Paulista de Basquete Sobre Rodas desde 2008.

Na ADD, atua como coordenador de esportes, orientando projetos para o desenvolvimento do esporte Paralímpico. Atualmente, também desenvolve trabalho de mestrado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, estudando a classificação funcional de atletas praticantes de basquetebol em cadeira de rodas.

Fonte: CWM

Passo Firme – 13.10.2012
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Mercado de produtos para pessoa com deficiência deve crescer 20% neste ano

Bens e serviços de tecnologia assistiva movimentaram R$ 1,5 bi no país em 2011; perspectiva é favorável, sobretudo, por apoio de novas linhas de crédito

O Brasil acostumou-se nos últimos anos a notícias sobre a pujança da economia doméstica. Dentre tantos setores beneficiados um se destaca pelo fato de que seu avanço é sinônimo de inclusão e melhoria da qualidade de vida de uma enorme população que, há décadas, esteve marginalizada: as pessoas com deficiência (PcD). O mercado de bens e serviços de tecnologia assistiva – voltado não apenas ao público que nasceu ou adquiriu ao longo da vida algum problema físico, visual, auditivo, etc, mas também ao crescente número de idosos no país – movimentou cerca de 1,5 bilhão de reais em 2011. A projeção em 2012 é de elevação de 20% do faturamento. Os dados são do Grupo Cipa Fiera Milano, organizador da XI Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade (Reatech), que acontece até este final de semana em São Paulo. Com 300 expositores, a estimativa é que aproximadamente 50 mil pessoas passem pelos estandes do Centro de Exposições Imigrantes nos quatro dias de evento, que termina neste domingo (15).

O crescimento do mercado de tecnologia assistiva deve-se a uma conjunção de fatores: desde a melhoria geral do ambiente econômico, passando pelo aumento do emprego das pessoas com deficiência, até a oferta de crédito especial por alguns bancos (veja matéria com mais detalhes). Há ainda grande expectativa no setor em 2012 com o impacto do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Viver sem Limite), lançado em novembro pelo governo federal. No Brasil, segundo dados preliminares do Censo de 2010, existem cerca de 45 milhões de pessoas com deficiência, o equivalente a 23% da população.

AUTOMÓVEIS – O segmento de automóveis é um dos que mais tem se beneficiado com o interesse das pessoas com deficiência. Do total movimentado pelo mercado de produtos de tecnologia assistiva no ano passado, cerca de 800 milhões de reais originaram-se apenas da compra e adaptação de veículos. Além do desejo natural de conquistar independência de locomoção, as vendas são favorecidas por preços mais convidativos. Afinal, as PcD’s podem comprar carros com isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

A Cavenaghi – empresa do ramo de adaptações veiculares, que possui duas lojas e 40 concessionárias autorizadas no Brasil – prevê expansão de 20% no faturamento neste ano. Hoje a companhia adapta e transforma anualmente cerca de cinco mil carros. Cada consumidor gasta entre R$ 800 e R$ 6 mil em produtos da linha de direção, por exemplo. “O mercado está sofrendo muita mudança, principalmente graças à Lei de Cotas. Quando essas pessoas entram no mercado de trabalho, elas começam a ser remuneradas e a consumir”, diz Monica Cavenaghi, diretora comercial da empresa, que planeja abrir mais seis lojas até o final do ano em cidades-sede da Copa do Mundo. Criada em 1991 e regulamentada em 1999, a lei determina que empresas com mais de 100 colaboradores têm de incluir homens e mulheres com deficiência em seus quadros de profissionais. Do total de pessoas nesta condição no país, cerca de 11 milhões têm capacidade laboral, segundo estimativas do Ministério do Trabalho (MTE).

ESTRANGEIRAS DE OLHO – Diante da perspectiva de crescimento bastante limitado dos mercados tradicionais de bens e serviços para PcD’s, como a Europa e os Estados Unidos, algumas empresas estrangeiras começam a traçar projetos de longo prazo para países emergentes como o Brasil. A prestigiada alemã Otto Bock – presente no mercado doméstico há 37 anos como fornecedora de próteses – começou a trazer mais recentemente para o país cadeiras de rodas e órteses (estruturas que auxiliam na melhoria das funções do corpo) e já faz novos planos. “Estudamos a possibilidade de ter uma produção local com o objetivo de fazer produtos mais adequados ao perfil do brasileiro”, afirma Wilson Zampini, diretor da empresa na América Latina.

Enquanto não tem fábrica no país, a companhia reclama da demora para obter autorização de importação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mesmo que, muitas vezes, seus produtos já possuam certificações europeias e americanas, a demora do órgão para liberar um bem que se almeja trazer do exterior pode levar de seis meses a um ano. Procurada pelo site de VEJA, a agência explica que a demora na aprovação geralmente ocorre pelo não cumprimento das exigências.

VIVER SEM LIMITES – Especialistas ouvidos pelo site de VEJA afirmam que o programa “Viver sem Limite” de 2011 coroa quase duas décadas de paulatino amadurecimento institucional em prol da inclusão plena da pessoa com deficiência na sociedade – e também na economia.  Com previsão orçamentária de 7,6 bilhões de reais até 2014, o plano inclui linhas de financiamento para empresas especializadas em tecnologia assistiva, crédito para o consumidor final com juros inferiores aos de mercado, compras governamentais para adequação de escolas e moradias populares, além do fortalecimento de ações de reabilitação.

As mudanças legais e econômicas nesta área são merecedoras de comemoração, mas ainda há muito a evoluir. “Os avanços são inegáveis, mas as condições de trabalho para as pessoas com deficiência, por exemplo, podem melhorar sobremaneira”, diz a consultora Carolina Ignara, da Talento Incluir, que ajuda empresas a contratar PcD’s. De acordo com ela, as principais dificuldades enfrentadas são a falta de cultura inclusiva no país, o reduzido entendimento sobre a Lei de Cotas e o déficit sociocultural da pessoa com deficiência. “Gestores despreparados pela cultura social, empresas contratando para cumprir cota e pessoas com deficiência sem saber seus direitos e deveres. Por isso, defendo que a inclusão deve investir em cultura. O entendimento leva ao respeito e aumenta as chances de sucesso”, completa.

DEFICIÊNCIA X RENDA – De acordo com o Relatório Mundial Sobre Deficiência, da Organização Mundial de Saúde (OMS), há uma prevalência maior de deficiência em países de renda baixa que em nações de rendimento mais elevado. Grosso modo, os mais pobres, desempregados e com baixa qualificação profissional estão expostos a um risco mais alto de se enquadrar também nesta condição. “É preciso entender a deficiência como um fator que se insere na relação entre a limitação funcional e o ambiente em que ela está inserida”, diz Luis Mauch, coordenador-geral da Mais Diferenças, organização da Sociedade Civil (OSCIP) especializada em educação e cultura inclusivas. Na avaliação dele, esse mercado ainda tem muito a se expandir no Brasil em comparação a economias mais maduras, como a Alemanha, por exemplo, que investiu muito em políticas e tecnologia para inserir pessoas com deficiência no pós-guerra. “Quanto mais adequado for o ambiente, melhores ficam as condições para as pessoas com deficiência. Entender isso gera oportunidades e é bom para a economia. Essas pessoas querem ser incluídas e cobradas”, acrescenta.

IMPOSTOS – Renato Laurenti, cadeirante há 28 anos e sócio da Comoir, empresa de e-commerce especializada em produtos para pessoas com deficiência, afirma que o poder público pode contribuir muito para esse mercado por meio da redução de impostos e desoneração da cadeia produtiva. Para ele, o número de empresas no mercado nacional ainda é restrito e, por isso, muitos artigos têm de ser importados. “Esse tipo de produto é prioritário, pois garante qualidade de vida e independência para essas pessoas, mas alguns ainda são muito caros”, diz. “Fico o dia inteiro sentado na minha cadeira. Se ela não for bem feita, com boa almofada, não aguento ficar. As cadeiras nacionais vêm melhorando, mas ainda não se comparam com as importadas em atributos como peso, conforto e mobilidade”, lamenta.

O empresário Vitor Hugo Silveira, da Altra Importação & Exportação, que traz do exterior produtos de uso diário, como talheres e alcançadores, concorda que a tributação é um grande problema. “Alguns produtos que não têm sofisticação, mas que ajudam na rotina, como talheres, acabam taxados na mesma categoria de produtos normais”, explica. Um exemplo dado por ele é um prato com bordas mais altas e ventosas para prender na mesa. A empresa o compra da China por cerca de 7 reais (4 dólares) e é obrigada a revendê-lo por 42 reais no mercado interno. Vinte reais do preço total referem-se apenas à tributação.

A despeito de tantos problemas, cegos, surdos, pessoas com deficiência física, idosos com problemas de mobilidade, etc, conseguem viver melhor hoje que décadas atrás. A conquista é mérito de todos: legisladores, governos, entidades sociais, empresários e das próprias pessoas com deficiência. O futuro inspira esperança. Contudo, cabe ao poder público – municipal, estadual e federal – papel ainda mais destacado. Como muitos bens e serviços, pela combinação de oferta restrita e impostos altos, ainda têm preços proibitivos para a maioria da população com deficiência, os governos poderiam guardar parcela da exorbitante arrecadação de impostos para apoiar este grupo com políticas públicas. Na Europa, não é raro que um cadeirante vá a uma feira como a Reatech, escolha a cadeira de seus sonhos e volte para casa, onde redige o pedido para compra do equipamento a ser endereçado ao governante local. E o mais interessante é que ele é atendido. O Brasil ainda tem de avançar muito para chegar lá.

Fonte: Veja

Passo Firme – 15.04.2012
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Reatech 2012: novidades em produtos para pessoas com deficiência são apresentadas

Veículos adaptados, atividades esportivas, elevador para piscinas, desfiles de moda com modelagem especial, computador controlado pelo movimento dos olhos, livros infantis impressos em braile e com imagens em relevo: tudo isso pode ser encontrado a partir desta quinta-feira (12), na 11ª Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade (ReaTech), a segunda maior feira de acessibilidade do mundo, que ocorre até domingo (15) no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo.

O operador de caixa e estudante de fisioterapia, Bruno Ricardo Rodrigues da Silva, pela primeira vez visitando a feira, decidiu participar de uma corrida em cadeira de rodas para sentir a dificuldade que um cadeirante tem ao usar esse tipo de equipamento. “Nunca tinha sentado em uma cadeira de rodas. É bem gostoso, bem diferente. É uma sensação estranha no começo, sem poder mexer as pernas para poder virar a cadeira de rodas ou poder olhar para trás. Foi bem interessante porque vi a dificuldade deles [das pessoas com deficiência]. Participando disso, percebi quais as dificuldades que eles têm”, disse.

Uma arena esportiva foi montada pela Associação Desportiva para Deficientes (ADD), entidade sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover o desenvolvimento da pessoa com deficiência por meio do esporte e da educação. “Desenvolvemos atividades de quadra, convidando entidades de todo o Brasil para fazer apresentações de várias modalidades paraolímpicas como vôlei, basquete e futebol. Assim, podemos contribuir para que as pessoas tenham a oportunidade de praticar alguma modalidade”, declarou Sileno Santos, coordenador de Esportes da ADD.

No estande da Fundação Dorina Nowill para Cegos, os visitantes são convidados a “ver a vida com outros olhos”. A ideia da fundação foi instalar diversas atividades sensoriais para estimular os cinco sentidos. “Assim, a gente começa a perceber que, sem a visão, há outras possibilidades também”, disse Adriana Kravchenko, gerente de Marketing e de Comunicação da fundação. Anderson Luis Nascimento, funcionário público e deficiente visual, foi um dos participantes da atividade que estimulava o olfato. “Foi um exercício legal. A gente aguça mais o olfato”, disse. A fundação também colocou á disposição dos visitantes uma coleção de livros voltados para as crianças.

“Uma grande novidade da feira são os livros infantis em textos ampliados e em braille, além de ilustrações em relevo. É uma coleção de dez livros para todas as crianças, não somente para as que têm deficiência visual. São livros que servem para os pais lerem para as crianças, com deficiência ou não, para os professores aplicarem em salas de aula e para as próprias crianças”, explicou Adriana Kravchenko. Todos os livros foram distribuídos para cinco mil bibliotecas públicas de todo o país.

“A criança com deficiência visual só consegue ter uma percepção da letra e da parte de alfabetização por meio do braille. Tendo recursos para poder ler, ela consegue se alfabetizar. Por isso, é muito importante ter livros em braile para crianças”, ressaltou. O livro atraiu a curiosidade de Elaine Alves da Silva, de 23 anos, que tem deficiência visual e não escuta por um dos ouvidos. Tateando o livro, Elaine disse tê-lo achado ‘muito lindo’. “Um livro como este ajuda na educação porque incentiva a criança a aprender a ler e a escrever”, disse. “Amo [ler]. Só não leio mais porque não há livros [adaptados]”, disse.

A mãe de Elaine, Severina Farias da Silva, lembrou que o processo de alfabetização da filha ocorreu com muita dificuldade por causa da falta de material escolar adaptado. “Acho isso [livro infantil em braille] muito importante, principalmente para as crianças que estão vindo agora. Na época dela não tinham esses livros”, declarou.

ESTATÍSTICAS – Dados do Censo de 2010 indicam que 23,9% da população brasileira têm algum tipo de deficiência, o que representa um universo superior a 45 milhões de pessoas. Na cidade de São Paulo, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida decidiu fazer um censo, este ano, para conhecer as regiões com o maior número de pessoas com deficiência. Os dados serão usados para a criação de políticas públicas voltadas para a acessibilidade e a inclusão.

“O censo vai nos dar a fotografia de como se encontra o deficiente na cidade, em que lugar e em que região [está instalado] e sobre a sua família. [O levantamento vai informar] se ele tem escolaridade, o tipo de deficiência, a renda e os problemas de acessibilidade que ele encontra no bairro”, disse o secretário Antonino Grasso.

A secretaria já está enviando formulários a todas as residências cadastradas no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Segundo o secretário, foram expedidas 2,4 milhões de correspondências contendo um formulário de apenas uma página que deve ser preenchido e devolvido pelos Correios, sem custo para as famílias. Os formulários também podem ser encontrados nas subprefeituras e no endereço eletrônico www.censoinclusao.sp.gov.br.

“Temos 93 bairros na cidade de São Paulo. Se pudermos saber quantos deficientes tem na Vila Prudente, por exemplo, vamos ter condições de criar políticas públicas que virem realidade e não fiquem só no papel. Poderemos ver se lá têm escolas e postos de saúde suficientes e se há transporte público adequado, por exemplo”, disse.

No ano passado, o setor de produtos e serviços para reabilitação movimentou cerca de R$ 1,5 bilhão. Desse total, R$ 200 milhões foram só com a comercialização de de cadeiras de rodas e R$ 800 milhões em automóveis e adaptações para veículos.

Veja na reportagem abaixo, feita na Reatech 2012 pelo programa Hoje em Dia da Rede Record, com o deficiente físico Ronaldo Denardo dirigindo e testando adaptações veiculares.

Fonte: Agência Brasil

Passo Firme – 12.04.2012
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